AS ÁGUAS
 
A chuva regressou pela boca da noite
Da sua grande caminhada
Qual virgem prostituida
Lançou-se desesperada
Nos braços famintos
Das árvores ressequidas! 
 
 
(Nos braços famintos das árvores
Que eram os braços famintos dos homens...)
 
 
Derramou-se sobre as chagas da terra
E pingou das frestas
Do chapéu roto dos desalmados casebres das ilhas
E escorreu do dorso descarnado dos montes!
 
 
Desceu pela noite a serenar
A louca, a vagabunda, a pérfida estrela do céu
Até que ao olhar brando e calmo da manhã
Num aceno farto de promessas
Ressurgiu a terra sarada
Ressumando a fartura e a vida!
 
 
Nos braços das árvores...
Nos braços dos homens...
 

 

orange.gif

ONÉSIMO SILVEIRA 

Hora Grande, 1962

orange.gif

 

 

 

 

© 2004 Árvores e Arbustos de Portugal  - Todos os direitos reservados.